" SAUDADE "

" SAUDADE "
Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recuar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida. (Pablo Neruda)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Amor de Amar...

Imagem by Sadako

Dispo-me dos pudores da forma
coloco meu ouvido no teu peito
e deixo-me levar
na emoção de quem procura
teu rosto na sombra
e te purifica te revela
te orvalhece te incendeia
e comparece em ti
com estas palavras
trazidas da alma

Se chegarei à poesia
não o sei
apenas escrevo estas linhas na água
para brilhar no céu
um dia
recolhidas pelas nuvens
ou espremidas a longo véu das chuvas

Agora desliza minha mão
a auscultar a memória da tua pele
a viver nela o tempo impensado
dos navios perdidos
viver na tua pele
todos os naufrágios
e renascer na palma
do amanhecer
Agora a vida é renascer
sempre em ti

Um pensamento fugidio
às festas da aurora
é teu nome em meu coração
a romper o silêncio
um risco de luz
transfigurado em tua face
é meu guia
e seguirei
cuidadoso
como um cão
e seguirei teu cheiro
pela noite imensa da paixão

Seguirei
até que te convertas
na própria tinta das palavras
e venhas a escrever
desde esta janela de espanto
que é o mundo
luz redonda de infinito

Seguirei contigo
ainda que estejas longe
e te desfaleças
noutra solidão
noutro minuto de esperança
e te consideres ausente
como são ausentes as distâncias
mas te chamarei baixinho
para te estelar
nas proximidades mais íntimas do amor
Para te estelar
na longitude dos espaços
das geografias
que o amor tem outro calendário
outro itinerário
E és tu, namorada,
que me dás a música dos versos
seu rebentar na carne

Luiz de Miranda
Do livro Amor de Amar

A ESSE AMOR...!!!

Imagem by A.D.

Chegarei a esse amor
pelo próprio destrato
que ele me empresta
pelo seu avesso, o reverso
pela porta menor, retrato
de luz aquecida

Chegarei a esse amor
amando o lado opaco
que se infiltra e bruxuleia
nas quietudes mais cerradas
pelo círculo de giz, pacto
por onde renasço da cinza

Chegarei com o hálito antigo
a calça de brim
o chinelo, a bombacha
na mala da memória
e a palavra, irmã de insônia
cisma
que habita o desatino
com seu sopro alumbrado

Chegarei a esse amor
sem explicações ou fórmulas
com o coração aberto
na manhã de sombra

Luiz de Miranda
a Alice de Salles

Transitório...!!!

Imagem by Art&Beauty

Amanheço com a chuva
dos anos da memória
e nada exaure mais
que este gosto de sal

E quanto queria
amanhecer longe
destes páramos
e perder com justeza
e sorrir com a vida
mas nada transporta
ou redime
os amigos mortos

A vida dói na alma
como uma tina de fel
e guardamos o segredo
de continuar vivos
para incrível surpresa
dos que comandam a vida

Luís de Miranda

Todas as Águas Dormem...

Imagem by Quoc Dinh

Há uma hora certa,
No meio da noite, uma hora morta,
Em que a água dorme. Todas as águas dormem:
No rio, na lagoa,
No açude, no brejão, nos olhos d’água,
Nos grotões fundos.
E quem ficar acordado
Na barranca, a noite inteira,
Há de ouvir a cachoeira
Parar a queda e o choro,
Que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
Todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
Fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
Nas placas da folhagem.
E adormece
Até a água fervida,
Nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
De torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
E chorando, a noite toda,
Porque a água dos olhos
Nunca tem sono...

Guimarães Rosa

O AMOR NO COLO

Imagem by Nowey

A dor não pede compreensão, pede respeito. Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.

Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento. Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado. Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.

Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.

Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro. O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.

Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos. É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia. É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.

Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure". A despedida não é lugar para poesia.

Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"

Haverá a indignação como última esperança.

Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.

Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.

Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.

Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.

Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.

Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças. Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.

Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas. Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar. Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava. Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.

Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.

Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.

O médico colocará o filho morto no colo materno. É cruel e - ao mesmo tempo - necessário. Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo. Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura. Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê-lo à tona. Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.

Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz. Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.

Fabrício Carpineja

Esquecer-te...!!!

Imagem by Quoc Dinh

Esquecer-te ...!!!
Até posso enganar a alma e dizer-te que sim
posso levar o coração a passear algures por aí
Talvez ele se distraia...
Mas que faço com o resto dos sentidos
quando ouço aquela música que era a nossa?
como calar o arrepio da pele
e os olhos rasos de água?
como fingir que não existes
se estás impresso em mim?

Seria quase como pedir ao céu que não chova
quando o dia está nublado
ou ao sol que não sorria num dia de verão

Como faço para deixar a saudade e a mágoa lá fora
naquela mesma porta por onde um dia tu saiste?

Eu silencio, não falo, nada digo
mas esquecer-te???
isso acho que não consigo...

São Reis

Antes de Poder Te Amar...

Imagem by Bill Totolo

Antes de poder te amar
tenho de aprender a gostar de mim
a aceitar-me como sou
só depois estarei pronta para repartir
o melhor que tenho

Aquele nada que todos procuram:
o carinho capaz de transbordar o corpo
e alagar a alma
a paixão suada que se partilha nos lençóis
a saudade que fica depois de um beijo
que se quer prolongado e nunca acabado

a serenidade que transparece no rosto
depois de saciados que foram os sentidos

e todo aquele cheiro a felicidade
que fica no nosso corpo suado de prazer

São Reis

Deste lado da vidraça...




















Imagem Quoc Dinh

Deste lado da vidraça,
A luz da Lua
Cerca as formas do meu corpo
Que o teu moldou.

Cerro os olhos...
E desejo-te aqui,
Em mim.

Na alma e no corpo
Que se perdeu aí,
Em ti.

Perdi em ti,
Os meus lábios
Aquando,
Do último beijo que demos.

Perdi em ti,
A minha pele,
Aquando,
Do último amor que fizemos.

Esta noite,
Desse lado da tua vidraça
Queria ser luz de Lua,

E nos teus lábios
Nos teus braços,
Sentir-me novamente tua...



Daniela S. Pereira

“Você era diferente”...

Imagem by Andrius Kovelinas

Eu não era diferente, eu era ingênua. Eu acreditava nas pessoas, eu confiava nas pessoas, eu tinha fé nelas. Mas a vida me mostrou do pior jeito que não dá para se confiar em qualquer um por aí, de falsidade o mundo está cheio e de inveja o mundo está transbordando. Os “monstros” não estão embaixo da sua cama, e sim ao seu lado.

Bárbara Flores

Oitenta Anos...

Imagem by Quoc Dink
( Homenagem ao pai que fez 80 anos)

Não me chamem idoso
pois vivo com os mesmo sonhos
que da vida recolhi...
Foram poucos os que vi partir
logo os renovei
da vida tudo o que fiz
foi por amor
com a paixão que de Deus recebi!

Agora bem sei que o meu corpo
já não é igual e que mal tem isso!
pois se aqui cheguei
aos oitenta anos de um mapa conciso
é para continuar a louvar
aquele que me entregou tudo o que preciso!

Também fui errante
e quem não foi?
Perfeito é aquele
que me trouxe até este dia
que comemoro com muita a alegria!

Ana Coelho

Fios de luz...

Imagem by Dialektus


Do sol se fez sangue
gota a gota a deslizar
em fios de luz
do ventre que lhe produz vida!

Do negro nascem as formas
no oculto visível
tocado com os sentidos
vertidos do alaranjado
ao fim do dia...

Quando da noite
se entrega a voz ao silêncio
os batimentos são íntimos...

O cordão já mais se quebra
o germinar foi alegre
uma explosão colorida
já mais esquecida em toda a vida!

Ana Coelho

Cadências cálidas


Imagem by Dialektus

Masturbo o pensamento
nas chamas do pântano
a luz quebra-se
e ainda a noite não caiu
nos mantos do horizonte…

Peregrinas emoções
que se sacodem pelos dedos
mornos de cinzas
a esvoaçarem pela terra…

Os verbos apocalípticos
soltam-se como penas
os dentes choram nostalgias
em união dos maxilares dormentes
…voam penas
num ar cansado
as esferas do planeta
imortalizam as cores
as partículas do vento
violam as cadências cálidas
o rio espera a nova vaga.

…e eu fico nas margens
em busca da ponte que as une
…a colossal imensidão
que se enquadra
…no meu olhar as águas estão serenas
prontas para o encontro
magistral com o mar
na foz do cais!

Ana Coelho

Ausência

Imagem by Otto Roth

Deitei-me.
Procurei as marcas de ti
no lugar vazio, na minha cama,
mas não existiam mais.
Ausência de ti…
Quero chamar-te,
mas as palavras não saem,
estão presas pela emoção.
Toco o lugar vazio ao meu lado…
Acaricio-o, lentamente,
chamo-te.
Onde estás tu agora,
qual a cama que aqueces?
Qual o corpo que tocas?
Olho as minhas mãos vazias…
E choro.
Preciso de ti…
Desespero…
Perco-me num rodopio de pensamentos.
Mas porquê?...
Preciso apagar-te desta cama vazia,
preciso deixar de sentir o teu cheiro
na minha almofada…
Cheiro, que não se apaga mais,
que está impregnado em mim.
Marcou-me como posse.
Sim…
Mesmo assim sou tua,
pois teceste o nosso caminho
nas ondas do meu corpo.
Marcaste em cada sítio,
novas emoções,
novos rumos e novos começos.
Sinto as tuas mãos que o percorreram,
mãos sábias,
mãos de amante.
Instruíste o meu corpo,
moldaste-o a ti.
Sinto a tua ausência,
ausência de carinho.
Sinto…
Sinto a ausência de ti.
O teu lugar na minha cama está vazio,
continuo à tua espera…!


Nina M.

A Saudade Quer...

... A Saudade quer ...

não deixo levar,

Este meu amor por Ti que está

escrito na alma.

Nina M.
Imagem by Quoc Dink

Solidão

Olhei pra janela e vi o céu em

sua plenitude cheio de, esplendor,

Olhei pra mim e vi solidão,

Sofrendo querendo ter teu

Amor...

Angelo Costeiro

Magoa...


Imagem by Quoc Dinh

Dói sentir,
Dói cada letra
desenhada com a tinta da Alma...
Cada palavra escrita
em lágrimas derramadas.,
escritas com a pena pesada
do teu sentir magoado.
Deixaste um serpentear de palavras
que me envolveram...
Doeu... e ainda Dói...
A dor da saudade destrói.
Palavras marcadas
por um profunda dor sentida.
Marcaste-me a Alma,
meu pedaço de vida.
Desnudei o meu corpo
tanto como desnudei minha alma.
Neles deixei marcado,
e perfeitamente gravado,
que és o anjo de Mim.
Marquei-as com letras de fogo,
para serem sentidas no perpéctuar do tempo
e nas linhas da vida.

Hoje e Sempre.

Deixas-Me Sem Saber...















Imagem by Dialektus

Sem saber o que fazer
O que realmente queres
O querer o que não queres
Simplesmente medo
Medo do que realmente queres
Não sei como dizer
Não sei como te fazer acreditar
Dizes que não me queres
Dizes que não me sentes
E apenas tens medo de sentir
Medo de amar de novo
Medo de sofrer de novo
Medo de cair de novo num poço sem fim
Fim de felicidade
Inicio de tormentos
Negrume de alma
De sentidos apurados que entorpecem
Sentimentos que adormecem
Medos que renascem
Pavor de sofrer
Apenas porque um dia sofres-te
Um dia cais-te
Caí, ergui-me, caí de novo, ergui-me de novo
Tem sido assim o meu tormento
Quando deveria de ser a minha vida a ser vivida
É apenas um caminho de mágoa
De saudade do que nunca tive
Do desejo do que algum dia irei ter
Talvez um dia entendas
Talvez um dia tu me dês valor
Talvez um dia, seja tarde demais
Talvez um dia não espere por ti o resto da vida
Não sei mais como te dizer
Como ganhar a tua confiança
Quando tu me abalas os alicerces
De tudo o que tenho por garantido
Dizes apenas, Um dia…
Sinto-me vazio com essas palavras
Perdido no meio de nada
Apenas vazio de tudo…

Carlos Fonseca