" SAUDADE "

" SAUDADE "
Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recuar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida. (Pablo Neruda)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Um anjo no céu e no inferno

Imagem by Doce Luana

Dentro de mim mora um anjo
que dividiu meu coração em dois mundos
Um ele chama de céu, o outro ele chama de inferno
Quando ele me leva ao inferno
chego disfarçada com semblante indefeso
com olhar meigo, sorriso tímido
Caminho solene por entre o fogo
sentindo desejos proibidos
que me levam a loucura
Busco os prazeres escondidos
camuflados, reprimidos, contidos
na ânsia louca de viver
todos os meus sonhos profanos
E é lá no inferno, que os meus lábios
vestindo batom carmim
ardem na procura de algo impreciso
Minha carne coberta com túnica de lantejolas
pede a indecência incandescente
Lateja em meu corpo o gosto místico e feroz
Desperta nos meus sentidos o sabor das impossibilidades
Sou só angústia queimando desejos no limite da carne...

Desse intenso imaginar em brasas, mudo de mundo
Da perdição com o meu anjo, chego a inocência
Entro no céu plácido, sereno e calmo, que refresca
E é no céu, que a pureza, o bem, a paz
me vestem de astúcia
me colocam no olhar um pouco de malícia
Disfarço em sedas decotadas com muitas tonalidades
toda a minha bondade
Caminho entre as nuvens atrevida e sensual
Sinto ternura, doçura
Sou toda perfeição na alma e no coração...

Andarilha,
com sapatos de emoções
passos incertos
busco intuições
toureando idéias
entre o abismo e o céu
entre a queda e o vôo
entre a certeza e a dúvida
oscilando entre o bem e o mal

Nessa discordância disfarçada
busco a minha verdade interior
Sou anjo que voa no inferno
Sou anjo que rasteja no céu...

Sandra Lúcia Ceccon

Se eu pudesse e soubesse

Imagem by Dialektus

Ah... se eu pudesse
voltaria no tempo do nunca mais
para enfeitar com o brilho das estrelas
o luar de prata do seu doce e forte olhar

Ah... se eu soubesse
lutaria contra tudo e contra todos
e mesmo que partida ou quase sem vida
teria em meus lábios os olhos que hoje fitam
o gosto da boca das forças que me ditam

Ah... se eu pudesse
despiria-me dos disfarces
das minhas roupas cerzidas
das capas rudes e rasgadas
todas cosidas que hoje visto
para que não me vissem
e enxergassem somente você

Ah... se eu soubesse
reencontrar o caminho de sua alma
arrancaria dela o coração em clemência
pois é nele que palpita a vida que revela
o quanto amei com evidência e em total ardência

Ah... se eu soubesse e pudesse
despertar em mim o tempo da inocência
para que eu existisse
com toda a insistência
dentro e fora de você...

Sandra Lúcia Ceccon

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sonhos de Inverno e os Rios da Alma


Imagem By Gianni Strino

Caí num poço sem fundo
Engoliu-me o vazio e a alma partiu em busca de outros sóis
No invisível, mostro-me ao que está ao alcance de uma mão
Um sonho parado no meio do Inverno

O frio congela-me os pensamentos livres
Ouvem-se serenatas roucas do fundo do mar
Afundaram-se os sonhos
Jazem junto às marés que se entregaram de mãos vazias

Um novo horizonte, uma gota no meio do oceano
Afoga-se na corrente morna dos rios que correm
Uma prece num sorriso a boiar
Um palco distante onde me arrasto para aprender a dançar

Descubro-me nos caminhos alagados
Nos remoinhos que afundam os rios do mundo
E solto-me na aridez de um sonho solto
Que se encosta ás margens de encontros casuais

E a alma...fonte inatingível
Jorra lágrimas correntes na linhagem habitual
Sabores conjugados, sentires afogados
Encantos e desencantos, sonhos fechados

O sol chora, acorda os picos entrelaçados
E os corpos desfilam na subtil indiferença dos mundos
Os mares extinguem-se nos oceanos de uma lágrima
Que se recolhe até à chegada das novas eras….

Mª Dolores Marques

QUANDO A SAUDADE MORA CONNOSCO


Imagem by Dialektus

É fácil sentir saudade no corpo
quando ela mora no nosso coração
É fácil ajoelhar e pedir perdão
os olhos recusarem-se a ver o óbvio
as mãos abraçarem o vazio
lidar com aquela sensação de partida
que resta quando tudo o resto se esvai

Dificil é lidar com esse sentimento
que se cola a nós e de nós não sai
E não lhe chamo saudade
Chamo-lhe a nostalgia que fica
quando a gente sabe que saudade não chega
para definir o que a gente sente...

São Reis
24.mai.2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

" VOAR "


Imagem by Dialektus

Deve ser bom voar! Abrir as asas,
fechar os olhos e partir sem rumo,
pairar sobre as cidades, sobre as casas,
como pássaro, estrelas, nuvem, fumo...

Deve ser bom voar! Erguer os braços
e acima dos telhados e dos ninhos,
esquecer os sinais de inúteis passos,
fugir ao pó de todos os caminhos...

Mas onde as asas para assim voar,
para subir às nuvens e às estrelas?
As dos homens, são asas de matar...
...e as dos anjos, quem pode pretendê-las ?

(Fernanda de Castro)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ESPERO-TE...


Imagem by Dialektus

E s p e r o -te
És o meu desafio,trovão,prazer,vulcão,o meu anoitecer
Olhar felino,faminto,latino,o meu instinto
És aroma,terra,és mar e amanhecer

S e n t e(ME)
A brisa acaricia-te num sopro e que se agita nos teus cabelos
Desnudo o teu olhar,ardente,beijo-te na mente
Respiro-te nos meus poros e embalo-me nos sentidos
Entre os lençóis de algas perfumadas nossos desejos alterados
A n s i o s a m e n t e

O i ç o (TE)
Nas palavras ao voo dos teus dedos em carícias sussurrantes que ondeiam sobre a pele e se fundem em esplendor
Cantam mistérios,silêncios gritantes, soluços,as tuas mãos dançantes,um arrepio na carne,és sol que me toca e a paixão provoca
S e d u t o r

Q u e r o - t e
És mar que sinto na boca do corpo salgado
Em ondas de volúpia onde me afogo e em ti mergulho
Sacio a minha fome num frenesim alternado e alongado
Bebo dos teus lábios,sou toda gota,mel que desagua na tua boca
Entramos numa viagem sem retorno e em êxtase deliramos
Prazeres misturados,estremecidos,perdidos e que sufoca
Namoras no meu corpo e todo o nosso corpo é chuva,quente,suada,onde nos
A m a m o s

Razão? perdemos a consciência e a loucura é a nossa essência num beijo em flor
Tudo o que vem de ti é um poema...sempre com amor


Paula OZ

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Navegar solitári


Imagem Teresa Yeh

És-me

e nunca foste minha

navegas no lamento das águas

onde as aves não pernoitam

e a noite avança em pleno dia



refletem –te os espelhos

e no sangue agitado das rosas

nascem gritos de silêncio



os braços ancorados

calam os abraços

distantes os lábios

do murmúrio do mel



quero-te página do meu livro

letras com asas

amanhecer de gestos e palavras…



01/05/2012

Clara Maria Barata