Imagem by beldade romântica
A esta hora que chora,
Quando em mim se instala toda a saudade
Que me veste de todas as sombras,
De todos os anseios,
De todos os receios
E lá fora já todos dormem ...
A esta hora que chora,
Espiral de gemidos silenciosos
Em que vou morrendo aos poucos
À mingua de ti,
Fico à tua espera ao pé do vento louco
E, à luz frágil de uma lâmpada triste
Vou bordando os meus medos
Num xaile de seda preto
Tecido pelas minhas mãos,
Pelas minhas próprias mãos,
Pelos meus próprios dedos...
Mas tu não vens.
Tu nunca vens
Nem dizes nada sequer ...
Tu nunca dizes nada.
Faça eu o que fizer,
Diga-te eu o que disser,
Tu nunca me dizes nada.
E eu, despida de orgulho
Que já nem sei dele,
Não sei por onde anda,
Não sei onde está,
Despida de mim,
Vestida de amor,
Vestida do teu nome,
Vestida de ti,
Vou-me afundando nas profundezas da noite...
Noite que eu não sabia,
Que eu desconhecia
Mas que tu me mostraste
E para lá me atiraste...
Noite negra,
Noite de breu,
Noite sombria...
E tenho medo da noite,
Deste negrume,
E tenho medo desta noite,
E tenho medo de mim
E medo da dor,
De todas as dores,
E da dor do ciúme...
Eu tenho ciúmes...
Ciúmes de ti ... tantos ciúmes...
E de ti eu não sei,
Estás por aí
Sabe Deus com quem...
Com uma mulher?
Mas agora és meu!...
Seja ela quem for
Ela tem que saber,
Tens que lho dizer!...
Eu preciso de ti.
A minha noite está vazia,
A minha noite é sombria,
E a noite está escura
E a noite está fria.
É o frio do medo,
Do medo das trevas,
Do medo das feras,
Das feras à solta,
Das feras enjauladas,
Enjauladas e loucas...
E este silêncio,
E esta revolta...
E novamente o medo,
E novamente o negrume,
E novamente o ciúme
Queima-me as veias
Aperta-me a garganta...
Não te quero perder,
Não te posso perder,
Prefiro morrer!
E o sono não chega,
E o sono não vem,
E eu quase louca
Chamo por ti...
Chamo outra vez
Mas tu não me ouves.
Tu nunca me ouves.
Porquê?... Porquê?
E choro...e choro...
Já não quero mais.
Já não posso mais.
Não vivo sem ti
E já quero outra vez...
Batem-me à porta...
É a morte que chega?
É a morte que vem?
Não! Não é a morte,
Também ela não chega,
Também ela não vem.
É a saudade que chega,
É a saudade que vem
Porque a saudade vem sempre
Não é como tu...
Ela nunca me deixa,
É de noite e de dia
A minha companhia
Porque tu nunca vens
Não me matas a sede,
Não bebes o meu sumo
Nem matas o meu medo...
E eu tenho tanto medo
De te perder,
De te não ter,
Prefiro morrer.
Tu não acreditas
Mas matas-me aos poucos...
Aos poucos vou morrendo...
Morrendo por ti...
Mas prefiro assim.
E tu não acreditas ... mais uma vez
E chamas-me louca...
Vais chamar-me louca
É mais fácil para ti...
Chamares-me louca...
"Morreu a louca"...irás tu dizer...
E eu que era crente,
Cria em ti...queria-te a ti
E quero!...E quero!...
Ah! Como quero
Mas tu não me queres
E batem de novo...
A saudade não é ... tenho-a aqui...
Será que é o fim?
O fim da estrada ... ou o fim de mim?
Meu Deus meu Deus ...
O que fiz eu de mim?
O que fizeste de mim?
Como eu queria o meu fim...
Como eu quero o meu fim ...
Que chegue depressa!...
E que venham os anjos
Para me levarem
E venham os coros,
E venham as flores,
Muitas flores,
Todas as flores,
De todas as cores,
De todos os amores,
E as tuas dores...
E as tuas dores ...
As dores do luto...
E lembra-te disto
Que te disse um dia:
"...Se me abrires os teus braços,
Eu deixarei tudo
E crucificar-me-ei neles
Num pranto enxuto..."
Amo-te...
E agora...vou!...
MARGARIDA SORRIBAS (a publicar)